Você sabia que o Brasil é o terceiro país no ranking mundial com maior número de pessoas com algum transtorno mental?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 720 milhões de pessoas sofrem de transtornos ligados à saúde mental, o que equivale a aproximadamente 10% da população mundial. No Brasil, ao menos 46 milhões de pessoas possuem algum transtorno mental, seja ele ansiedade, depressão, TDAH ou outras doenças, o equivalente a 25% da população mundial.
A OMS também apontou que 20% dos adolescentes sofrem de depressão e que a doença é uma das principais causadoras de suicídio. No período de 12 anos, por exemplo, mais de 30% dos casos de mortes por suicídio foram de pessoas jovens.
Segundo um artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) em parceria com outras instituições, o índice de transtornos mentais como depressão e ansiedade associado à características sociodemográficas apresentadas na atenção primária de 27 unidades de saúde familiar das capitais do Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre indicaram taxas superiores a 50%. Fortaleza liderou com 64,3%, seguido de Porto Alegre com 57,7%, 53,3% em São Paulo e 51,9% no Rio de Janeiro. Além disso, o estudo apontou que mulheres desempregadas e de baixa renda são as que mais sofrem de transtornos mentais.
Esses dados reforçam a importância de debater e conscientizar as pessoas sobre saúde mental e seus estigmas. Mas, afinal, o que é o estigma?
A definição do dicionário de Oxford atribui dois significados à palavra, são eles: marca ou cicatriz deixada por ferida e sinal natural do corpo. A partir disso, é possível concluir que o termo estigma é caracterizado pelo preconceito e exclusão social, que geram grande sofrimento e dor e, consequentemente, marcas nas pessoas.
É importante destacar que, diferente da definição do dicionário de Oxford, o estigma não é só físico, mas também psicológico. Apesar do estigma ligado à saúde mental não ser proveniente de uma marca física permanente, ele também é fonte de sofrimento e dor, que geram repercussões sérias como a baixa de autoestima, perda de confiança, obstáculo em relação à concretização de projetos pessoais e aos cuidados com a saúde no geral.
Frases e expressões discriminatórias direcionadas a pessoas que sofrem com transtornos mentais representam o estigma e, logo, o preconceito e a exclusão social. Elas são pautadas em falsas crenças diretamente ligadas à falta de conhecimento e compreensão sobre os transtornos mentais.
Hoje chamamos isso de Psicofobia, que nada mais é do que o preconceito contra os indivíduos portadores de doenças mentais. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o termo foi criado em parceria com Chico Anysio, humorista brasileiro que sofria de depressão e fazia tratamento há 24 anos. “Se não fosse o tratamento psiquiátrico, não teria feito nem 20% do que fiz em minha vida”: esse foi o depoimento que Chico gravou para a ABP relembrando sua trajetória.
O humorista ainda disse que “Quanto mais pessoas me ouvirem falar sobre depressão, mais pessoas vão deixar de ter vergonha de ser deprimidos”. As palavras de Chico trazem uma reflexão muito relevante acerca do estigma em saúde mental: o autoestigma. Isso porque ele não é só da sociedade, mas também do próprio portador do transtorno mental.
O preconceito e o julgamento das pessoas é tão grande que fica enraizado, e então elas acreditam que ter uma doença mental é motivo de vergonha. Com isso vem o medo, a ausência de autoestima, de confiança e a crença de que é algo negativo, que por ter depressão, ansiedade ou TDAH, por exemplo, não é digno ou não se encaixa entre os demais.
Para combater o estigma e promover conscientização sobre o tema, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criou uma campanha contra a psicofobia, com a temática “Seu preconceito causa sofrimento”. A campanha já recebeu apoio de grandes personalidades brasileiras como o escritor Ruy Castro, o ator Reynaldo Gianecchini e a atriz Bárbara Paz. Os resultados têm sido muito positivos e a população tem participado ativamente, declarando-se contra a psicofobia.
O Projeto de Lei do Senado nº 74 de 2014, de auditoria do Senador Paulo Davim, torna a psicofobia um crime, assim como o racismo e a homofobia. O projeto alega que atitudes preconceituosas e discriminatórias contra os portadores e deficientes de transtornos mentais serão consideradas de cunho criminoso e terão sérias repercussões.
A campanha tem como objetivo dar voz aos portadores de transtornos mentais que sofrem preconceito e a proposta de conscientizar e orientar a sociedade sobre o tema. Com a #psicofobiaexiste, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e apoiadores querem ajudar 50 milhões de brasileiros vítimas de transtornos mentais e mostrar que eles não estão sozinhos.
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